Os cegos estão por toda parte. Não falo dos que estão sempre de óculos escuros, guiados por uma bengala e são impedidos de ver a luz do sol, de contemplar o azul do céu, de olhar no fundo dos olhos, e outras maravilhas que só a visão pode captar. Não me refiro a esses, que também são muitos.

Falo dos cegos que possuem total capacidade visual, mas não a usam com sabedoria. O cego que enxerga, mas não vê. Aquele que não vê o outro, não vê nada além de si mesmo. Ou, ao contrário, vê unicamente o outro, e se desagrada para agradar o outro, que se coloca em segunda opção, sempre. 

Falo daquele cego que não vê o que pode dar certo, mas só o que pode dar errado. Que vê a oportunidade, mas não arrisca. Que fecha os olhos e não se move quando se depara com a dificuldade, os obstáculos.

O cego que se depara com o necessitado, o faminto, o estigmatizado e baixa os olhos, com medo ou repulsa. Aquele cego que, de tanto ver, já não vê mais nada, em decorrência de uma visão desgastada, calejada, que já não tem sensibilidade para o mundo a sua volta. Que não se impressiona e nem se deixa emocionar facilmente.

 Aquele cego que é capaz de captar todas as maravilhas do mundo, mas não as admira, não as valoriza, não as sente. O cego de olho grande, que vive na busca incansável pelo dinheiro e possui a vista desfocada para o valor das pequenas coisas. O cego que vive uma vida na qual não se vê, na qual não se sente vivo. 

O cego que vislumbra o futuro e corre feito um louco atrás dele, esquecendo-se que a única certeza é o agora. O cego que só vê a capa, a casca, a superfície e que, antes mesmo de ver a fundo, faz uma série de julgamentos infundados, os chamados pré-conceitos.

 A lista é interminável, e eles estão em toda parte. E são eles que sofrem da pior cegueira, uma cegueira que nem cirurgia de córnea resolve. Uma cegueira que não exige bengala, mas que pode gerar muitos tombos no percurso. Uma cegueira que só a vida pode consertar.

 E para aqueles que aqui se viram: Abram os olhos, enquanto há tempo.

English text

The blind are everywhere. I speak not of those who are always wearing sunglasses, guided by a cane and are prevented from seeing the light of the sun, contemplating the blue sky, to look in the eye, and other wonders that only the vision can grasp. I am not referring to those who also are many

I speak of the blind who have full vision, but do not use it wisely. The blind man who sees but does not see. He who does not see the other, sees nothing but himself. Or, rather, sees only the other, and is displeased to please the other, which arises in the second option, always. 

I speak of that blind not to see what might work, but only what can go wrong. He sees the opportunity, but not risk. That closes his eyes and does not move when faced with difficulty, obstacles. 

The blind man who stumbles upon the needy, the hungry, the poor and stigmatized eyes with fear or disgust. The blind man, both of view, no longer see anything as a result of a vision worn, calloused, who has no sensitivity to the world around you. That is not impressed and neither is allowed to emote easily.

 That blind man who is able to capture all the wonders of the world, but not surprising, not the value, not the feel. The big blind eye, who lives in the relentless pursuit of money and has blurred the view to the value of small things. The blind man who lives a life in which no one sees, which does not feel alive. 

The blind man who glimpses the future and run like hell behind him, forgetting that the only certainty is now. The blind man who sees only the hood, the shell, the surface and that, before you even see the bottom, makes a number of unfounded judgments, called preconceptions. 

The list is endless, and they are everywhere. And they are suffering the worst blindness, a blindness that neither solves corneal surgery. A blind that requires no stick, but which can generate many bumps on the route. A blindness that only the living can fix. 

And for those who found themselves here: Open your eyes, while there is time.